20 de ago. de 2008

Coisas estranhas.

Sentenças comuns de se ouvir, de várias pessoas, dirigidas a umas poucas pessoas, geralmente as mesmas: "Não confia no fulano(a). É informante. Tudo que disseres será levado até aos gerentes." "Fulano(a) tem previlégios por causa disso - faça o que fizer, nada lhe acontece, nem lhe chamam a atenção." Bom, eu já fiquei com a pulga atrás das "oreias"! Comecei a observar, analisar perguntas, atitudes, cuidar os passos... e, a deixar estas pessoas de lado. Mas, o João não conhece o chão brasileiro, a luta suja para segurar emprego, posição, chegar lá em cima, ganhar aumento de salário... Aqui, se eu sair da empresa, tem, no mínimo, umas 1.000 pessoas que podem vir a se candidatar... E, para a empresa, se aceitarem salário menor, melhor é. Não importa se sabem ou não sabem. Não importa qualificação da mão-de-obra.
E, o João levou na brincadeira. Pelo menos com uma destas pessoas ele brincava bastante. Brincava, mas dizendo algumas verdades. Esta pessoa ficava a lançar ameaças, também na brincadeira. E isto eu já não estava gostando.
Eu vi lançarem olhares de ódio para o João, num dia em que ele disse que só faria uma instalação elétrica no lugar indicado e que não era correto, se esta pessoa se responsabilizasse pelas consequências...
Lá tinha muito material no almoxarifado ou no meio do pátio que estavam a espera de conserto, ou já condenadas por quem as usavam, dizendo que não tinham conserto. Alguma coisa o João avisou: em vez de pagarem para terceiros, comprem a peça tal, que custa baratíssimo e eu conserto. Falou para mais de uma pessoa sobre estes casos. Ninguém tomou posição.
Outras coisas pediram para o João consertar, mas ele pedia o material necessário e .. nada. Se a memória não me falha, até andaram informando os gerentes que ele não fazia o trabalho que pediam. E o material que precisava para o conserto?
Lá há o portão que dá entrada para a empresa, pelo lado administrativo. Vivia emperrado, trancado. Era preciso chamar fulanos tercearizados para tomar providências. O João sabia como consertar. Avisou. Não ouviram. Então ele começou a dar as dicas para o moço que era mecânico. Deu algumas dicas de como consertar o portão, dizendo que se fizessem juntos, não havia necessidade de chamar serviços de terceiros. Nada.
Sobre a central telefônica também. Ela queima fácil. Fácil chamar serviço especializado. João mostrou o que deveria ser feito e que ele poderia fazer. Foram mais alguns olhares de ódio.
Sei lá... ele sabia fazer, não precisava ser mandado, ele tinha conhecimentos, não precisava perguntar nada para ninguém.
Mas, alguém que não se curva é motivo de medo por parte de algumas pessoas. Alguém que falava enrolado, e, para que não rissem dele, se fechava... isso foi considerado orgulho, menosprezo pelos brasileiros de lá.
Ninguém quer funcionário que possa vir a ensinar. Consideraram que humildade não era o forte do João.
Um problema do João é fazer comparações... pq lá em Portugal... isso não ajuda em nada o seu relacionamento com as pessoas. Só piora.
Bom, veio o ato e fato: dispensar o João. Motivo: advogados alertaram que ele era estrangeiro ilegal e a empresa poderia pagar multa, etc e tal se ele fosse "encontrado" lá dentro!
Chorei muito. Não sei se o João chorou. Mas, deve ter sido uma paulada sem medidas que gerou consequências doloridas para nós e que ficou e ficará a marca para sempre.

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